O surgimento das imagens de Ofélia no Brasil:
a política da autorrepresentação
Resumo
As imagens de Ofélia continuam sendo bastante populares desde a sua explosão no século XIX, na Inglaterra. Tendo alcançado a posição de mito, a heroína shakespeariana ocupa um lugar privilegiado na cultura visual do ocidente, constituindo-se em um dos temas mais populares da pintura literária. Embora a maior parte dos estudos sobre a iconografia de Ofélia busque identificar a sua presença nas culturas britânica e americana, as interpretações visuais da trágica personagem também vêm sendo realizadas em diferentes partes do mundo, ajudando a registrar a forma como culturas distintas respondem ao "mito de Ofélia" no globalizado mundo contemporâneo. Minha contribuição reside em atentar para o aparecimento recente de Ofélia nas artes visuais brasileiras. Analisarei imagens (principalmente fotografias, mas também imagens de atuações) produzidas por três artistas brasileiras que se dedicam com disposição ao ressurgimento de Ofélia a partir de uma perspectiva contra-discursiva. Utilizando seus próprios corpos como locais políticos de re-leitura de interpretações essencialistas do feminino, tão evidentes em apropriações banalizadas de Ofélia, as artistas/modelos propõem tornar visível aquilo que as pinturas de belas Ofélias mortas têm se esforçado para manter escondido sob um véu poético. Vou sugerir quais as circunstâncias sócio-históricas que incitaram sua materialização repentina no Brasil e considerar as reelaborações interculturais às quais as Ofélias brasileiras foram submetidas.
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